Supervisão de Coaching e os seus Fundamentos Psicológicos
Reflexão inspirada no livro Supervisión de Coaching, Damián Goldvarg, 2017.
À medida que vou fazendo a minha jornada no mundo da Supervisão, vou percebendo a necessidade de dançar uma valsa ou um tango com as suas teorias e ferramentas. E estas danças ficam mais profissionais quando o match entre a psicologia e a Supervisão em Coaching marcam presença.
Os modelos e as distinções que nos chegam da Psicologia permitem-nos estar mais seguros e flexíveis quando sentimos que chegou a altura de explorar o Quem do Coach e explorar os desafios que surgem nas relações com os seus clientes.
Segundo Bluckert, Coach Executivo e co-fundador da EMCC, os clientes de Coaching executivo valorizam estas três características nos profissionais que lhes prestam serviço: excelência profissional, conhecimento da área do negócio e Sensibilidade Psicológica.
Olhemos para três teorias psicológicas que nos oferecem distinções práticas e fundamentais para o trabalho de Supervisão: psicanálise, gestalt e análise transacional.
Psicanálise – no modelo dos Sete Olhos de Peter Hawkins exploram-se os diferentes níveis de interação entre Supervisor, supervisado e cliente. Eis-nos chegados aos conceitos de transferência e contratransferência que nos chegam da psicanálise freudiana. Na realidade, o Supervisor tem o papel de observar estas dinâmicas para criar consciência sobre a forma como impactam no trabalho dos supervisados.
Na transferência, o individuo “transfere inconscientemente e revive, nos seus novos vínculos, os seus antigos sentimentos, afetos, expetativas ou desejos infantis reprimidos”. Em Coaching pode acontecer quando o cliente, de forma inconsciente, cria um vínculo com o seu Coach, como filho, pai, mãe e repete, no aqui e agora, da sessão uma dinâmica do seu passado. A projeção, idealização e competência são três modalidades da transferência.
Se olharmos para o conceito de contratransferência no âmbito do Coaching, podemos verificar que é o inverso de transferência. Quem reage emocionalmente é o Supervisor ou o Coach. E fá-lo para o seu cliente, que lhe recorda alguém da sua história de vida.
Os pontos cegos são excelentes oportunidades de exploração na Supervisão. Analisar o que é de um e o que é do outro.
Os supervisados e os clientes trazem respostas emocionais nos Supervisores que, ao serem trabalhadas, permitem uma maior eficácia do processo. Aliás, se não forem “mexidas” não existe processo!
Na Identificação, o Coach identifica-se com o tema que o cliente traz para a sessão (dificuldades em ter uma relação com o chefe) e pode acontecer que o Coach não se sinta confortável a trabalhar com esse cliente porque as dores são similares.
A Supervisão é um espaço onde as dúvidas são rainhas, onde se pode falar e explorar as identificações e encontrar formas de nos distanciarmos daquele que é o Tema do Cliente, para que não interfira no trabalho do Coach. O mesmo pode acontecer com o Supervisor e é fundamental que seja identificada e trabalhada para que a sessão seja mais eficaz.
Processo Paralelo – é um processo em que se repetem dinâmicas que aconteceram noutra relação. Estar habilitado a identificar a ocorrência de um processo paralelo é fundamental para conhecer em profundidade o mundo interno do cliente e as dinâmicas relacionais.
Essa exploração faz parte do modelo dos Sete Olhos, de Hawkins. A repetição de padrões inscreve-se nos processos paralelos. São interações excelentes para trabalhar em Supervisão.
Contributos Gestálticos na Supervisão de Coaching
A Gestalt põe a tónica no aqui e agora.
O seu principal objetivo é encontrar o como em vez do porquê. Trabalha sobre o tema da consciência, sobre o dar-se conta e foca-se na responsabilidade do cliente e na importância da corporalidade. A Gestalt apoia-se em conceitos criados pelo existencialismo, a fenomenologia, o budismo zen e o taoísmo, utiliza o método fenomenológico, que quando utilizado em Supervisão de Coaching pode ser definido como a capacidade de reconhecer o que está a acontecer na sessão, e assim criar consciência no supervisado e favorecer o seu processo de aprendizagem.
Gestalt na Supervisão e o foco:
- Como é que o Coach relata o que aconteceu na sessão;
- Como percebe o seu mundo;
- Como fez o que fez durante o seu trabalho com o cliente;
- Como é a relação entre o Coach e o Supervisor no aqui e agora;
- Como reage o Coach às intervenções do Supervisor;
- Como reage o Supervisor o que foi apresentado pelo Coach;
- O que ficou incompleto na sessão de Coaching ou de Supervisão.
Um dos pilares da Gestalt é criar consciência para que a mudança aconteça. O objetivo da aplicação da Gestalt é que os clientes tenham uma maior consciência de si mesmos, que se tornem responsáveis e tomem as melhores decisões.
Para criar consciência: a utilização do que se conhece como metodologia holística, que se foca no todo.
O Supervisor deve ter a capacidade de se conectar não só com a sua mente, as suas crenças, os seus pensamentos e a sua linguagem, mas também com as suas emoções, as suas respostas corporais e a sua energia como um Todo. Também a capacidade de incluir na conversa as influências externas dos sistemas de que faz parte e que estão a impactar nas dinâmicas relacionais é de valorizar.
Quando o Supervisor utiliza a metodologia gestáltica:
Cria-se um espaço onde Coach e Supervisor refletem sobre a prática profissional ou sobre casos apresentados com lentes holísticas (põe especial atenção à relação entre o que aconteceu na sessão de Coaching e o que se está a passar, aqui e agora, na sessão de Supervisão. A metodologia gestáltica também trabalha para completar o que está incompleto,
- no que está a fazer o cliente
- a relação entre o Coach e o seu cliente
- a relação entre o Supervisor e o Coach
Perguntas a utilizar pelo Supervisor:
- Do que te dás conta neste momento enquanto me dizes isto?
- O que estás a sentir?
- De que estás consciente neste momento? O que se está a passar contigo?
- O que estás a pensar?
A Gestalt interessa-se pelos processos de transferência, resistência e confluência.
Resistência
É um tipo de comportamento que se deteta quando o Coach supervisado se distancia e se nega a explorar em profundidade o que aconteceu na sessão de Coaching.
É uma oportunidade de aprendizagem, uma forma criativa de expressão que fornece informação valiosa.
Resistências a dar de si na sessão de Coaching, resistências a receber feedback (no trabalho do Quem está a Ser).
Confluência
Uma situação em que o Coach se alia ao seu cliente ou o Supervisor com o supervisadopara acordarem qual o significado de alguns acontecimentos, sem os explorar devidamente. O diálogo acontece na zona de conforto e asseguram-se que não existe conflito.
Método fenomenológico
Aproxima-se do aqui e agora e implica a utilização de estratégias, como:
- Bracketing – Colocar juízos de lado
- Descrever o que observa em vez de procurar uma explicação (observo uma mudança de energia)
- Equalizar, que é dar valor igual a todas as observações, ainda que algumas pareçam insignificantes.
A Gestalt utiliza o conceito de self. A utilização do self em Supervisão refere-se à importância de o Supervisor reconhecer as suas próprias reações emocionais, reconhecimento valioso para o trabalho com o supervisado.
Análise Transacional
A AT reconhece três padrões ou estados de desenvolvimento do eu: adulto, criança e o pai. Cada um dos três obedece a comportamentos distintos, que geram uma dinâmica complementar ou conflituosa e procuram satisfazer necessidades pessoais.
O adulto é aquele que tem comportamentos maduros e toma decisões ponderadas, assertivas.
O pai representa a autoridade e a criança tem atitudes rebeldes ou passivas.
Simbiose
A AT foca o seu estudo nas relações simbióticas. Aliam-se para benefício mútuo e uma depende da outra para a sua sobrevivência.
A simbiose pode ser positiva (recém-nascido e pais) ou negativa quando se observa dependência entre adultos.
Perguntas:
- Com que frequência me coloco no estado de pai para controlar os outros?
- Estou a funcionar como um pai em vez de os deixar serem autónomos?
- Quão consciente está o Coach da sua necessidade de que lhe digam o que tem que fazer e receber reconhecimento, ou punição?
Descontar
Aplica-se na relação: Coach-cliente; Coach-Supervisor. Sempre que um deles esconde informação e se refugia nas crenças. Uma das funções do Supervisor é explorar o que se esconde.
Importante: se um Coach não tem supervisão, o que esconde vai para um ponto cego, nunca ficando a saber que informação critica não explorou com o seu cliente.
Pode esconder-se:
- A situação.
- A importância do que se passa
- As soluções que se oferecem
- As competências necessárias para implementar estratégias
- As estratégias eleitas para lidar com os desafios
- O êxito alcançado
Os strokes (caricias) oferecem-se quando o Coach entende que deve apreciar o trabalho do cliente.
Para Karpman (1986) as pessoas comportam-se como se percorressem um triângulo com estes vértices:
O perseguidor – ataca ou agride
O resgatador – intervém com o propósito de ajudar o mais fraco
A vítima – sente que recebe um tratamento injusto
Estas posturas são habitualmente inconscientes e quando existe clareza sobre o papel que tomaram como seu, existe uma maior oportunidade de tomar decisões mais adequadas.